A Comissão Nacional da Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM aderiu ao movimento mundial de prevenção do suicídio “Setembro Amarelo”. Segundo a advogada Melissa Telles Barufi, presidente da comissão, a campanha tem a intenção de alertar os pais, familiares e toda a sociedade sobre o crescimento do suicídio infantil, a fim de alcançar meios de prevenção.
“O assunto é sério. Conforme dados do Ministério da Saúde, de 2000 a 2015, os suicídios aumentaram 65% entre pessoas com idade de 10 a 14 anos, e 45% de 15 a 19 anos”, declara a advogada. “Precisamos enfrentar o tema de forma séria e responsável. Não se pode minimizar quando uma criança ou adolescente disser que deseja morrer. Não se pode acreditar no ditado ‘quem fala, não faz’. Quem fala está querendo ser ouvido, está pedindo ajuda. Importante procurar ajuda, conversar, ou seja, verificar se este jovem está pensando em suicídio e buscar a entender as causas de seu sofrimento”, diz.
A advogada Melissa Barufi expõe: “Com base em importantes trabalhos publicados por especialistas no assunto, da área da saúde, podemos citar diversos aspectos que estão relacionados ao suicídio infantil, como transtornos psicológicos, por exemplo, a depressão; uso de substâncias psicoativas como álcool, e outras drogas; violência familiar, dentre esta, a violência psicológica, física e sexual. Mas, neste momento, chamamos a atenção para os estudos que demonstram que normalmente as crianças/os jovens suicidam-se em momentos que estão sentindo-se sozinhos. As crianças, adolescentes e os jovens estão precisando de atenção. Atenção não significa suprir necessidades financeiras e que tudo seja permitido. Pelo contrário, precisam de limites. Atenção significa estar presente, de preferência off-line. Brincar é uma alternativa de aproximação, além de ser um direito garantido por lei e preconizado pela ONU desde 1959”.
Como participar
A Comissão da Infância e Juventude do IBDFAM criou um grupo no Facebook chamado “Prevenção”. O objetivo do grupo é estudar formas de proteger crianças, adolescentes e jovens de violências e outras ações que coloquem o seu desenvolvimento em risco. O grupo inicia com o tema “Suicídio Infantil – o que pode ser feito para prevenir?”. Os interessados em participar podem entrar em contato por meio da página da Comissão da Infância e Juventude do IBDFAM na mesma rede social.
Problema de saúde pública
Em 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um relatório onde considerou o suicídio “um grande problema de saúde pública”. De acordo com esse estudo, o Brasil é o oitavo país em número de suicídios. Segundo a OMS, o tabu em torno deste tipo de morte impede que famílias e governos abordem a questão abertamente e de forma eficaz.
“É muito importante falar sobre o suicídio, porque o suicídio é tido como uma atividade pecaminosa, condenada pela nossa sociedade. A OMS percebeu que houve um aumento dos casos de suicídio e isso chamou a atenção das autoridades de saúde, dos médicos, dos pesquisadores e hoje a gente sabe que isso é um problema de saúde pública. A grande questão é pensar em que ponto nós estamos, de vida em comunidade, que faz com que as pessoas tenham vontade de deixar de viver”, reflete a psicóloga e bacharel em direito Glicia Brazil, membro do IBDFAM.
Causas multifatoriais
“Com 20 anos de trabalho como psicóloga no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) o que eu percebo é que não existe uma causa isolada. É um conjunto de causas, fatores externos e internos”, afirma Glicia Brazil.
Como fatores externos, por exemplo, ela cita as questões socioeconômicas; e internos fatores que geram intenso sofrimento para aquela pessoa e a morte passa ser a solução. “Fatores relacionados a perdas, falta de aceitação social como jovens que estão sendo vítima de bullying, transtornos psiquiátricos e pessoas com histórico de depressão/bipolaridade”, diz.
Segundo ela, muitas vezes os sinais de suicídio não são encarados com seriedade. “A gente banaliza esses sinais. Falas recorrentes de que tudo vai dar errado, pessimismo, pensamentos negativos recorrentes, auto-mutilação são sinais de pensamentos suicidas”, explica.
Para a psicóloga, o suicídio anuncia uma falha em escutar um pedido de socorro de alguém que precisa de ajuda. “Nós precisamos estar atentos, precisamos falar da morte para lidar com tranquilidade com esse fenômeno natural. Acabar com esse tabu”.