Disponível na Netflix, o filme Laço Materno (2020), do cineasta japonês Tatsushi Ohmori, une drama e suspense para falar de uma relação tumultuada entre mãe e filho. Akiko (Masami Nagasawa) é uma mulher extrovertida, mãe solo do pequeno Shuhei (Sho Gunji). As disfunções dessa relação começam a se revelar no decorrer da história.

“O filme é baseado em um caso verídico e retrata de forma densa e muito angustiante para o espectador as consequências de uma relação entre mãe e filho baseada no controle doentio e nos excessos”, define a psicanalista Claudia Pretti, vice-diretora de Relações Interdisciplinares do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM.

A especialista afirma que Laço Materno ilustra “de forma brilhante o que se passa no psiquismo dos filhos quando os adultos responsáveis pelos lugares de parentalidade não podem exercer suas funções de forma a transmitir os elementos necessários para a sua estruturação subjetiva”.

Disparidades na relação do filho com os pais

De um lado, a história retrata uma mãe inconstante, imatura, impulsiva e com grandes dificuldades de se posicionar na vida adulta. “Comporta-se como uma adolescente que toma o filho como companheiro e mesmo como instrumento para sustentar sua posição sintomática. Akiko é uma mãe que demonstra carinho pelo filho, mas que se encontra completamente distanciada de seu lugar de cuidado na relação com o mesmo. Ao contrário, o coloca a serviço de atender a seus caprichos”, comenta Claudia.

Ela acrescenta que, de outro lado, o pai pouco aparece. “Ele afirma querer ocupar seu lugar, mas que não se posiciona de forma firme, e que efetivamente não faz nenhum movimento concreto nesse sentido, ficando, ele próprio como um espectador da dinâmica disfuncional na qual a família está envolvida.”

“No meio disso, Shuhei, sem poder contar nem com um e nem com o outro, fica aprisionado em uma relação tóxica e doentia, marcada pelo amor, mas também por todo tipo de abuso e sofrimento. A postura corporal rígida, o semblante duro e melancólico retrata, no real do corpo, o sofrimento psíquico vivido por ele. Uma criança, e depois um adolescente que, no lugar de objeto de capricho materno, anula sua subjetividade e vive o desamparo e a precariedade quase como um zumbi.”

Em um momento de sua adolescência, surge na vida dele Aya, uma assistente social que tenta retirá-lo dessa posição tão degradante. “Shuhei esboça um desejo de se desprender desse cenário precário e degradante em que estava imerso e fazer um movimento em direção à vida, mas Akiko reage e ele não consegue se desprender, entregando-se de vez ao horror e à tragédia na qual irá aí se transformar sua vida.”

Pensar a família sem olhar tão romantizado

Laço Materno traz ensinamentos aos profissionais que atuam no Direito das Famílias, segundo Claudia Pretti. “Ensina que gerar, gestar e parir um filho, que o laço sanguíneo materno não garante a posição e a função materna na relação com o filho. E ainda que é fundamental pensarmos as famílias sem um olhar tão romantizado e para além dos modelos heteronormativos patriarcais tradicionais ainda tão vigentes em nossa época.”

Para a diretora nacional do IBDFAM, a produção ainda derruba o mito do instinto e do amor materno como garantia de saúde psíquica para os filhos e aponta para a importância da função paterna, independentemente de quem a exerça. “Ensina ainda que a condição humana é regida por uma outra ordem que não a do  instinto, e que nossa condição de vulnerabilidade nos faz dependentes de afeto, de investimento, de olhar e de cuidados.”

“O que é indispensável na vida de um filho é que existam na vida dele adultos de uma geração anterior que os recebam no mundo e que, pela via do investimento afetivo os insiram na linguagem e no mundo humano. Essa é em última instância a definição de parentalidade”, conclui a psicanalista.

LAÇO MATERNO
Filme. Drama / Suspense. Ano: 2020. Direção: Tatsushi Omori. Com Masami Nagasawa, Daiken Okudaira e Sadao Abe. Disponível na Netflix.

Fonte: Assessoria de Comunicação do IBDFAM