Para ampliar o debate sobre um tema caro à sociedade, abarcado de tabus e com o enfrentamento ainda impreciso, a Comissão da Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM antecipou a campanha Setembro Amarelo. Com o lema “Não vamos esperar setembro chegar para falar de suícido”, o objetivo é despertar o poder público e a sociedade civil para os casos de suícidio infantil. A ação envolve lives nas redes sociais e recebimento de artigos científicos sobre o tema.
Segundo a advogada Melissa Barufi, presidente da Comissão da Infância e Juventude do IBDFAM, o comportamento suicida é um sério problema de saúde pública, mas que ainda segue como um tabu na sociedade, inclusive entre os profissionais da área da saúde mental. Ela responde a entrevista em parceria com a psicóloga Samantha Dubugras Sá, diretora interdisciplinar psicológico do Instituto Proteger e membro do IBDFAM.
Atualmente, o suícidio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil e a segunda causa de morte em adolescentes, conforme dados da Organização Mundial da Saúde – OMS. Cerca de 96% desses casos estão relacionados a algum transtorno mental, sendo a depressão o mais prevalente.
Segundo a organização, a taxa de suicídios é preocupante entre jovens na faixa de 10 a 19 anos. Entre 2006 e 2015, o número de casos cresceu 24% nas seis maiores cidades do Brasil: Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Considerando todo o país, o aumento foi de 13%, segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. No levantamento, o suicídio aparece como a segunda principal causa de morte de jovens de 15 a 24 anos.
Possível aumento na pandemia
Em 2016, uma pesquisa do Ministério da Saúde, revelou que 8% das pessoas que colocaram fim à própria vida, no Brasil, tinham entre 10 e 19 anos. Uma pesquisa, realizada em abril deste ano pela Universidade Federal de São Paulo – UFSP, apontou um aumento de 24% em casos de suicídios de adolescentes nas seis maiores cidades brasileiras. No interior do País, o crescimento foi de 13%.
“O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial, ou seja, existem diversos fatores combinados que podem levar uma pessoa a tirar a própria vida. Com a pandemia os índices de adoecimento mental e de comportamento suicida tiveram um aumento expressivo e preocupante em todas as idades, principalmente em crianças e adolescentes”, observa Melissa.
A especialista cita um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, no qual foi identificado que uma a cada quatro crianças e adolescentes teve sinais de ansiedade e depressão na pandemia; sintomas esses, muitas vezes, preditores do comportamento suicida. “Assim, no contexto de uma pandemia, pode ocorrer um aumento no número de casos devido a diversos fatores tais como: solidão, desesperança, acesso reduzido a suporte comunitário e religioso/espiritual, medo, dificuldade de acesso ao tratamento de saúde, isolamento, doenças e problemas de saúde, situações de violência familiar, negligência, suicídio de familiares ou de pessoas conhecidas, entre outros.”
Ela acrescenta: “Acreditamos que a melhor forma de prevenção é a psicoeducação”. Segundo Melissa, a proposta da campanha do IBDFAM é romper o tabu e o silêncio, abordando a temática do comportamento suicida de maneira responsável e científica.
“Pais, responsáveis e educadores precisam estar informados sobre os fatores de risco, sinais e sintomas, para debater essas questões em casa e no ambiente escolar. Assim, também poderão saber, e estar atentos, ao momento em que é necessária a busca de ajuda profissional e especializada”, frisa a advogada.
Busque ajuda
A campanha brasileira de prevenção ao suicídio e de atenção à saúde mental é realizada desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP em parceria com Conselho Federal de Medicina – CFM. No dia 10 de setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
O Centro de Valorização da Vida – CVV, é um portal de comunicação que oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio. O atendimento é gratuito e voltado para todas as pessoas que quiserem e precisarem conversar sobre questões emocionais pelas quais estejam passando. O serviço funciona 24 horas por dia.
Formas de atendimento do CVV:
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